A hora de parar de afiar o machado

A expressão no título deste artigo nos remete à célebre parábola do lenhador (calma, meu espírito de pregador logo acaba…), aquela que compara um jovem (e inexperiente?) lenhador a um velho (e experiente?) lenhador que, ao invés de aplicar força bruta para derrubar suas árvores, passa a maior parte do tempo afiando o machado antes de desferir seus golpes. Admito que existe alguma lição legal nesta história, mas farei um contraponto importante: se você quer derrubar uma árvore, chega o momento de parar de afiar o machado, e começar a desferir os golpes. Afiar o machado para sempre lhe dará uma lâmina fabulosa, lustrosa e vitaminada, mas que nunca trouxe resultado algum além da sua beleza e do seu potencial. A sua formação acadêmica é esta lâmina e, salvo se você buscar uma carreira na academia, você deve urgentemente associá-la a experiências profissionais sólidas e relevantes.

Em 2008 li uma entrevista do Max Geringher chamado “O Profissional de TI do Futuro”, e achei interessante porque falava de coisas que sentia na minha carreira, em especial porque estava me consolidando em um novo rumo. O artigo acabou esquecido por mais de quatro anos entre as minhas anotações, e ao decidir escreve este, de imediato me lembrei de um trecho daquele, que está mais atual do que nunca: 

Um erro que muitos jovens estão cometendo é o de imaginar que, quanto mais diplomas tiverem, maiores serão as oportunidades. Por isso, estudam até os 25 ou 26 anos, fazem pós, MBA, e intercâmbio para aprender inglês.

E aí, quando começam a procurar emprego, descobrem que as portas estão fechadas. O maior índice de desemprego está nessa faixa, dos 18 aos 25 anos, e afeta jovens com curso superior. Por outro lado, o mercado tem vagas para técnicos, mas não consegue encontrá-los em quantidade suficiente.

[…] Alguém que começou a trabalhar cedo, aprendeu os macetes na prática e depois se decidiu pelo curso superior mais indicado. Aos 25 anos, ele estará pronto para assumir uma função gerencial.

Não pretendo entrar na discussão entre ensino técnico versus ensino superior. O ponto aqui é: tem gente que demora tanto para se posicionar no mercado que perde o bonde. E não raro perdem vários bondes! E também não raro perdem estes bondes munidos de toneladas de títulos e diplomas. Este cenário cai como uma luva para algumas pessoas cursando especializações e MBAs (são a mesma coisa, lembra?), mas se aplica também para quem se encontra na metade final de sua graduação e ainda não buscou iniciar sua carreira.

Os próprios recrutadores admitem abertamente que a experiência profissional geralmente é avaliada antes da formação, que também é muito importante mas vem logo em seguida. Existem perfis de vagas e empresas para todos os tipos. Empresas podem estar buscando um profissional com ampla formação e não necessariamente experiência na mesma proporção (neste cenário, o que complica é não ter nenhuma experiência). Neste cenário, normalmente existe um desejo velado de moldar o ingressante de acordo com os valores da empresa. A contrapartida me parece muito mais frequente no mercado de TI: empresas buscam a experiência acima da formação, desde que esta última não seja sofrível.

Esta semana perguntamos no perfil do site no Facebook em que momentos da sua formação os leitores haviam começado a atuar em suas áreas (considerando estágios). A maioria dos participantes respondeu que iniciou sua carreira na primeira metade da faculdade, e também foi alto o percentual de pessoas dizendo que começou ainda mais cedo, no ensino médio. De certa forma, não estou surpreso com o resultado na nossa região, onde somos estimulados (ou pelo menos éramos, lá nos anos 80 e 90) a começar a trabalhar cedo. Nem sempre era o caso, mas mesmo em famílias de classe média e estáveis, sem necessidades financeiras severas, a cultura do “trabalhar para se sustentar e ser independente” sempre foi muito forte.

Em 2005 a Você S/A já falava que a experiência vem primeiro para alguém que está saindo da faculdade. A seguir estão alguns pontos que um trabalho “real” proporciona e que você não encontra nos bancos escolares (na visão do autor, com a qual concordo):

  • Vivenciar as dificuldades de relacionamento, com colegas e chefes.
  • Entender o ambiente de uma organização.
  • Aprender a lidar com a pressão por resultados.
  • Tomar conhecimento de suas forças e fraquezas
  • Identificar o que lhe falta em conhecimento e/ou competências.
  • Aprender a ter foco, principalmente para quem é mais jovem.
  • Entender o negócio de uma empresa: conhecer sua visão, a missão e os valores.
  • Buscar proativamente entender a empresa. Networking.

Para mim, a principal vantagem é cometer logo cedo os erros que todos cometemos no início de nossas carreiras. Erros estes que não são graves quando a carga de responsabilidades ainda é pequena, e que certamente lhe trarão um grande crescimento. Deixe para cometê-los mais tarde, e isto pode lhe custar caro!

Nesta altura alguém irá dizer: “Alto lá! Nunca é tarde para começar!”. De fato, conheço várias pessoas que se reinventaram lá depois dos 40, e você também deve conhecer. Mas que tal se reinventar aos 20 ou aos 25?! Quanto antes você perceber o que lhe satisfaz e motiva na vida, maiores são suas chances de ser feliz (e o sucesso – aquele danado – costuma vir agarrado).

Por fim, não pretendo encerrar o artigo sem dar algumas dicas para quem se alarmou e percebeu que se encontra nesta situação. A primeira e mais importante dica é: vá trabalhar! Busque pelo menos uma vaga de estágio na área (agora!) e deixe de lado seus preconceitos e vícios adquiridos nos anos de escola; usufrua desta experiência. Para você que adquiriu ampla carga acadêmica e agora se vê deslocado para conseguir uma colocação (tardia) no mercado de trabalho, pode buscar experiências também em atividades extracurriculares durante a faculdade, como monitoria, iniciação científica, empresas júnior, estágios, atividades complementares e até mesmo no envolvimento com centros acadêmicos. Nesta matéria há boas dicas para elaborar seu currículo e se apresentar às empresas não tendo experiência. No entanto, nada lhe dará uma noção tão boa da área em que escolheu do que atuar profissionalmente nela.

Deixe um comentário